segunda-feira, 17 de abril de 2006

Personagem: Suzane von Richthofen

Ouvindo: Older Chests - Damien Rice Lendo: meus poemas Escrevendo: nada além disto.

Há uma personagem do circo de horrores em voga no cenário policial e fictício da qual eu gostaria de, sobre ela, dissertar. Seu nome é Suzane von Richthofen, a menina que confessou ter planejado e participado do assassinato de seus pais.

Sim, ela é uma personagem. E é por isso que não compreendo a surpresa da mídia em vê-la na sua péssima primeira e única atuação diante das câmeras. Não entendo onde ela pode estar sendo mal vista, se nos seus motivos, ou na sua veia artística falida. Qual a razão para condenarmos uma personagem tão mal escrita e mal caracterizada, dirigida por um diretor sem tato nenhum para o fio dramático? Qual a razão para vermos na tentativa duma mulher que sequer frequentou aulas de teatro a ética de seu pseudo-protetor?

Pois então condenemos os atores, que mentem todos os dias nas novelas, filmes e apresentações de teatro. Eles encarnam personagens, mas que de tal modo são aperfeiçoados pelo estudo que não temos segurança suficiente para apontarmos qual sentimento está se passando em seus corações. Condenemos os políticos, que mentem em seus discursos, mas são desprovido do estudo específico dos atores, sendo, portanto, muitas vezes desmascarados em pleno ofício.

Suzane é um exemplo de fracasso. Ela fracassou na tentativa de convencer-nos de seu problema, que é tão mentiroso e manipulado que nem um grande ator poderia criar certo arquétipo. Aliás isso é um ponto positivo na atuação de Suzane: uma atuação única, que ninguém seria capaz de repetir, pelo teor dissimulado e pouco inspirado. Seu diretor fracassou porque se aproveitou de sua conduta para criar aquela colcha de retalhos sentimentais, sua personagem, à um programa de TV. Ele fracassou porque confiou demais nas suas orientações, dando como certas as escolhas duma mulher mentirosa. Pois eu digo que não há como validar a mentira pela verdade dos atos. Para um bom ator, deixar transparecer em seus olhos a realidade que se quer passar é ter garantias do sucesso.


Eu digo, então, como poderia ter sido melhor, para ela, em sua atuação: primeiramente Suzane deveria ter feito essa entrevista ANTES de ter pedido a fortuna dos pais. Deveria acostumar-se a idéia de injustiça, já que ela quis que sentíssemos isso por ela, pois um grande mentiroso primeiro convence a si mesmo, para passar veracidade na sua voz, nos seus atos. Deveria ter exposto menos seu tutor, caso fracassasse. E este deveria ter pensado menos na hora de decidir-se pela entrevista: quanto mais tempo se leva para uma apresentação, mais se cria insatisfação do público. E o público é o principal motivo do teatro, da encenação.

E para finalizar: a inclinação visível ao sensacionalismo é que criou o personagem Suzane von Richthofen. A televisão é ávida de personagens, não importa quantos, nem a qualidade, mas personagens que mostrem inúmeras realidades. A importância que se dá a eles é tanta que por inúmeras vezes seguimos seus dogmas, espelhando-nos ou contrapondo-nos. E essa parricida, atriz falida, aproveitou-se da crença de nós todos em personagens. Só não contava com os microfones ligados...

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