sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Pondera

Eu insisti tanto com tantas coisas... eu achei que deveria ser feliz com minhas próprias escolhas, afinal é isso que te ensinam na televisão, nos filmes épicos, nos livros de auto-ajuda... e eu queria tanto ser normal como todo mundo... ter uma vida normal, amigos normais e uma morte normal...

As coisas tem sempre que ser diferentes comigo?

Estou doente. Meu coração falhou, fui pra hospital e tudo mais. Ninguém me diz nada, ninguém quer me dizer nada. Tenho medo. Não tem noite que eu não pense "será que eu vou acordar amanhã?". Gostaria muito de dizer que estou feliz com os remédios que estou tomando, com o pouco progresso que fiz, mas a verdade é que eu estou com muito medo. Estou com medo de morrer e deixar muita coisa pra fazer, muita coisa por escrever, outras pra apagar, outras pra dizer, uma pessoa pra conquistar.

Não me sai da cabeça que eu sou jovem demais pra morrer. Talvez eu até concorde que os poetas morrem muito mais cedo que os reles mortais, mas eu não queria sentir tanta dor. Eu queria que fosse mais rápido, indolor, e poético. Mas como não se escolhe como se vai morrer... eu preferiria que ninguém estivesse por perto. Eu tenho vergonha de estar tão ruim e sem esperanças, eu tenho vergonha de admitir isso pros meus amigos. Na verdade eu tenho medo de deixá-los tristes quando eu for. Quero tanto que todos eles sejam felizes, mas eu mesmo não estou sendo... a um bom tempo não tenho bons motivos pra ser feliz. E ainda assim eu luto.

Se eu estiver com câncer, eu acho que não vou me tratar. Não vale a pena dar continuidade à dor. Eu até mereço, mas se não há outra saída, morrer é o melhor.
Se eu estiver com câncer, eu acho que não vou me tratar. Não quero viver de remédios. Como eu disse, eu mereço.
Se eu estiver com câncer, não quero romaria no meu pé, não quero ninguém "urubuzando" minha vida. Afinal, câncer não mata bom humor...

Mas, se eu não estiver com câncer, quero continuar com meu plano impossível de ser feliz. Afinal ser feliz exige tudo o que eu não tenho agora. Por enquanto.

"EU - ...e se eu tivesse feito tudo diferente? E se eu tivesse sido feliz muito antes? Tudo não dependeria tanto de tantas respostas...
ELA - ...sim, mas aí você não seria você..."