segunda-feira, 14 de abril de 2008

In-expiração

Eu fui lá e fechei os olhos. Odeio surpresas, mas a iluminação, os gestos, o silêncio dentro da casa, o silêncio fora da casa, a trilha de indícios, a porta semi-cerrada, absolutamente tudo me levava a ir. Té o gato pardo da vizinha não fazia barulho na cozinha...

Eu entrei bem devagar, observando que nada do que eu queria estava lá. Ou seja, eu não ouvia minha consciência me avisando "você está perigosamente entrando em território desconhecido". Parti pra outra abordagem.

Tirei os óculos da preguiça e comecei a observar, levantando dados, meias, calcinhas e muitas revistas. Encontrei remédios, presilhas de cabelo, tampas de perfumes e outras coisas. Os cheiros eram todos uns misturados, alguns tão singelos outros tão pesados. Então minha mente começou a fazer poesia com a visão que eu tinha daquele lugar. Eu sempre faço poesia dentro de mim, e a metade disso é tão noir...

Fui olhar a cama. Ou melhor, o leito. Pralguma pessoa desavisada aquilo pareceria fruto de noites de febre alta e delírios. Ainda havia a moldura de um corpo naqueles panos. Com um toque eu pude sentir a umidade, além de saber que estava recém abandonada a cama. Com outro toque eu pude sentir um calor que se ia com o bafo gelado do ar condicionado. Aliás, era o ar que mistificou aquela minha experiência: ele estava ferino, animal, sanguíneo...

E quando eu achava que o barulho da porta atrás de mim revelaria a musa de toda a poesia daquele momento, eis que me aparece... uma loura nauseabunda com bobs no cabelo!

Eu realmente viajo na maionese.
Cheers!