quarta-feira, 15 de junho de 2016

De Loé-Yoru

Ghan amava Loé, e um dia Seron matou Ghan e fez de Loé uma escrava. Um mercador chamado Faroé passava pelas terras de Seron e encontrou Loé e se apaixonou por sua beleza. Faroé vendia para o líder da tribo, e resolveu pagar a ele pela liberdade de Loé. 

O líder ordenou a liberdade de Loé, mas Seron não obedeceu, e a acorrentou no fundo de uma caverna, com somente um vaso com grãos e um pote com água, despiu as roupas dela e as jogou num rio longe dali. Seron foi morto pelo líder, sem dizer onde havia acorrentado Loé. Faroé então passou a procurar por Loé por dias, até achar suas roupas no rio.

Achando que Loé havia morrido, Faroé desistiu das buscas e foi embora daquelas terras. No fundo da caverna, Loé já perdia as forças, e já havia desistido de gritar por socorro. Ela lembrava de Ghan, e de seu amor por ele, e de sua tribo. Sua tristeza foi silenciando cada vez mais seu coração, e sua esperança foi morrendo com ela.

Então, sem alimento e água, prestes a dar seu último suspiro, Loé viu uma luz crescente vir do fundo da caverna. Braços de luz levantaram sua cabeça, e ela sentiu um sopro de vida que a reanimou. A corrente se partiu com um estalo, e logo ela se via de pé.

Loé então perguntou - quem és? - mas os braços recolheram e sumiram, junto com a luz. Ela tremeu com o súbito frio que sentiu, e logo começou a escalar a caverna. Sua força voltara como nos dias mais felizes, e seu cabelo não estava sujo. Ela olhou para a saída da caverna e sorriu. A luz da lua banhou seu corpo nu.

Um ancião que colhia cogumelos encontrou Loé num caminho à beira de um morro, e a acolheu. Loé não falava nada, só sorria, e o ancião, após muito tentar saber sobre ela, deu-lhe um nome de Yoru, que era o nome de sua filha falecida. Alguns dias se passaram e Loé conviveu com o ancião, sorridente, ajudando na casa, como uma boa filha.

Mas um dia Loé parou de sorrir, e o ancião, que voltava da mata com uma pequena lebre para o jantar, viu pela primeira vez aquela bela mulher falar.

- Obrigado por tudo que fizeste a mim, ancião! Fui muito bem tratada enquanto estive com você aqui, e em honra de sua confiança e compaixão, adotarei o nome que me deste! Mas que infelicidade a minha não saber do vosso nome!

- Meu nome é Er-Danzu, o mais velho dos meus irmãos. E você não precisa me agradecer, eu vi você num sonho! E pouco antes de encontrá-la, uma mulher me apontou onde você estava, mas nada falou! Quando vi que você também não falava, segui meu sonho! Agora eu tenho Yoru de volta! - alegrou-se o ancião.

- Que mulher lhe apontou onde eu estava? - questionou Yoru.

- Uma mulher baixa, escura, de olhos estreitos, com uma vasta cabeleira até os joelhos, nua e envolta de limo, de onde brotavam pequenas flores, e alguns cogumelos, que eu procurava para fazer o chá que ia te curar, como no sonho. Nunca vi cogumelos como aqueles aqui nessas matas, mas aquele era sim o cogumelo que eu procurava. Para o chá, como no sonho. - disse o ancião.

Assim, com esse mistério a descobrir, Yoru despediu-se do ancião.

- Que os Imortais te protejam e te recebam nos Douros, Er-Danzu!

Mas o ancião lhe deu mais um mistério.

- Yoru, eu sei que você vai embora. Eu vi no sonho! Mas devo te dizer que seu coração está dividido. Seu amor por seu marido, ou vingar-se do homem que matou seu marido e te fez escrava. Assim como vi no sonho, te direi, escolha bem seu caminho. Muitos perigos estão lá fora para você. Descer ou subir, queimar ou mergulhar, amar ou vingar. Eu a quero bem, minha Yoru. Mas sei que vai ser tudo como no sonho. - falou o ancião, triste.

Assim Yoru foi embora da casa do ancião. Seu coração ainda estava relutante de qual caminho seguir. Voltar pra sua tribo, tão distante, ou vagar pelas terras ermas. Muitos planos e poucas certezas.

Assim começou a grande tragédia de Loé-Yoru, que viria se tornar a lenda mais famosa a se contar para assustar as crianças vários séculos depois. A história da mulher que foi dos Pósuos aos Douros, inspirando gerações de aventureiros de Solari.

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