terça-feira, 14 de junho de 2016

De G'jia e Annon

G'jia estava completando seu primeiro milênio em Tardessa e seu pai, Oong'dulu já pedia um neto. Após tanto tempo sua filha não havia se interessado por nenhum tardessiano, e seus longos vinte e oito mil anos assustavam, pois estava velho e cansado daquele mundo.

Um dia, diante as praias de Oulata, em Rúnu, G'jia passeava com seu secto real quando uma delas encontrou uma rocha de um amarelo brilhante. G'jia recebeu a rocha em suas mãos e logo uma euforia correu seu corpo, e suas pernas ficaram moles, seus lábios ficaram secos e sua pupila se dilatou. Ela sorriu. Seu secto achou que era algo ruim, e tentou tirar a rocha das mãos da princesa, mas ela se recusou, e correu para dentro do mar.

As águas do mar pareciam línguas de fogo, que não queimavam nem feriam, e G'jia percebeu que aquela sensação era muito boa, carnal, e vinha da rocha brilhante. Seu secto por vezes tentou dissuadir a princesa a sair do mar, mas ela estava num transe consciente, experimentando sensações que ela nunca havia sentido. O vento em seu cabelo lhe causava um furor, e seu corpo tremia. A espuma das ondas lhe faziam rir.

Então, como se estivesse saindo de um sonho, ela quietou e caminhou para fora do mar. O secto, alarmado, a seguiu, de longe, como ela logo ordenou. G'jia caminhou muitas milhas, e seu secto ainda preocupado, já havia mandado emissários avisar ao rei e aos guardas reais. Ela caminhou até uma encosta onde havia uma grande rocha, semelhante a uma cadeira. Subiu sem esforços e ali ela depositou a rocha, assentada na rocha.

Um grande ruído de trovão e uma língua de fogo e água subiram, e G'jia se viu envolta numa nuvem de vapor, mas sua pele não queimava nem feria. O secto e os guardas reais lá ao longe se assustaram, mas não conseguiam se aproximar por causa do grande calor. G'jia levantou-se e abriu os braços como se fosse abraçar alguém. Então, como um raio que partiu o céu, Annon'bi'emac surgiu em sua frente, com seu cabelo dourado radiante. Suas roupas eram azuis com desenhos de ondas, e calçava umas botas cheias de conchas. G'jia o abraçou, falou algo em seu ouvido, e então ele falou com ela.
Eu estava preso neste mundo
Sozinho e apagando
Com o coração partido e esperando
Que você viesse!
Então G'jia mais uma vez o abraçou, e falou a ele.
Eu vim, amado!
Mas eu me sentia igualmente sozinha e apagando
Com o coração vazio e esperando
Que você viesse!
Annon'bi'emac olhou para cima, e um outro raio partiu o céu num estrondo. De lá desceu uma coroa dourada, com uma safira engastada na frente e dois topázios imperiais acima das orelhas. Ele segurou a coroa e coroou G'jia, que sorria. Ele então falou a ela.
Nós estamos presos a esse mundo
Que não é destinado para nós!
Aceita ser minha Rainha
E serei um Rei para vós!
De longe, chegando em seu cavalo, o rei Oong'dulu assistiu sua filha ser coroada, e se espantou com tamanha magia. Seu coração se encheu de ira, mas percebeu que Annon'bi'emac era um do povo dos Mentarnaeu, descendentes diretos dos deuses.

G'jia aceitou ser Rainha, e logo sua vida se alongou muito mais que a de seu pai. Oong'dulu retirou-se do trono, e em menos de duzentos anos seu neto, Ágolos, nasceu. Pouco mais que cento e oitenta anos depois, uma neta, Hésife, nasceu. O velho rei se alegrou, e muitas celebrações aconteceram por séculos. O reino estava alegre, governado por um Deus e por uma Rainha.

Oong'dulu morreu com trinta e quatro mil anos, e ao redor de seu túmulo muitas árvores nasceram, dando origem à Floresta de Détilos, conta a lenda. Ágolos assumiu o trono do reino com sua irmã Hésife quando seus pais, que nunca mais envelheceram, ascenderam e foram para a morada dos Mentarnaeu.

Esta é a origem, segundo o povo branti, dos homens que povoaram Solari, tendo em seu maior exemplo Martim, o Senhor dos Homens, Pai dos Homens, Orador dos Homens, Defensor dos Homens Menores.

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