segunda-feira, 4 de maio de 2009

Bios

Logo que eu nasci fui levado pra uma outra sala, enrolado num pano de hospital verde, 40x40. Eu chorava um tanto. As enfermeiras falavam coisa pra me acalmar, mas não dava, o ar queimava meus pulmões nada acostumados com ele. Eu tentava abrir os olhos, mas era muito difícil com tanto muco que vinha junto com a minha placenta. Ah, a minha placenta! Ela foi meu primeiro travesseiro!

A enfermeira que ficou ao meu lado era uma mulher morena clara, magra, de cabelos castanhos. Me chateou o fato das mãos delas estarem o tempo todo com luvas. Eu desejava, naquela altura, sentir o toque da mão humana. Não aquela do médico que me puxou. Meu parto foi de cesárea. E eu fui o primeiro. Minha mãe nem sentiu nada. Isso me deixa confortável. Ela não pode dizer que eu já nasci causando dor.

Lembro que o doutor que fez meu parto, aliás, o da minha mãe, chamava-se Henrique. Ele era auxiliado pela doutora Marlene. Não lembro do nome da outra enfermeira, a de cabelos claros. Mas não importa, ela foi embora logo. Se não queria saber de mim, eu também não queria saber dela. Ou talvez ela só quissesse fumar um cigarro depois de vinte e oito minutos só de parto. Eu até entenderia. Isso gera muito estresse.

Coitada da enfermeira, eu penso agora.
Cheers!

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