quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Welcome, Rookie!

Abro os olhos.

Uma cama repleta de sujeira, um calor inexplicavelmente acolhedor. Meu corpo está entorpecido, a cabeça pesa, meus olhos ardem, meus lábios estão secos. Eu vejo em minha frente um par de cortinas escuras, parecem sujas. Aquele lugar fede muito a vômito. Eu tento levantar, sem forças. Apesar disso minha respiração é calma. Dor de cabeça, como se algo estivesse pressionando minhas têmporas.

Reunindo o melhor de minhas forças, consigo levantar e sentar na cama. Os braços tremem, ao esforço de se manterem apoiando o corpo. Olho ao meu redor e tudo que vejo é um lugar muito sujo. Pouca luz entra por trás das cortinas, que agora confirmo estarem sujas de vômito, e aqueles pedaços de comida. Muitas latas de cerveja, muitas garrafas de bebidas variadas, um violão aos pedaços, maços de cigarro amassados e centenas de bitucas de cigarros ao chão. Minha cabeça pesa. Começo a distinguir mais coisas naquela escuridão.

Eu não sei que lugar é aquele. Minha mente parece estar muito fragmentada, e isso me impede de lembrar como eu cheguei até lá. Aparentemente eu estou só naquele caos, mas não me surpreenderia ver alguem sair do meio daquela sujeira e montes de roupas jogadas ao chão. Eu realmente devo ter feito muita besteira. Melhor verificar novamente minhas condições. Eu conto: dois braços, duas pernas, uma cabeça. Não perdi nenhum dos dedos. Levanto minha cueca, e uma camisinha ainda cobre meu pênis encolhido, e ainda há esperma lá dentro. Ao menos eu me preveni, penso. A boca está muito seca, e isso me move a sair dali. Procuro o chão com os pés, que agora formigam. Estou tonto. Mas devo tentar me levantar.

Mal sustento meu corpo nas pernas. Estou muito fraco, ou cansado. Uma sensação de enjoo surge, e sinto aquela queimação no estômago. O mundo gira. Meus pés estão molhados, o chão todo está úmido. Latas amassadas, muitas latas amassadas. Tento dar o primeiro passo, mas meus pés latejam, e eu caio na cama novamente. O torpor toma conta de mim. Cada fibra de meus músculos estão pesados, uma energia me puxa pra baixo. Sensação estranha. O mundo dá muito mais voltas, tudo parece girar. Um pequeno estalo em meus ouvidos, um repentino cheiro de perfume e piscar é algo doloroso. Estou bêbado, a ressaca é horrível.

Então a porta do quarto se abre! A luz que vem daquele corredor branco dói em meus olhos. Uma mulher ruiva, vestindo uma lingerie preta, entra e atrás dela os paramédicos. Ela olha pra mim, estou deitado de lado na cama, pesado, mas o socorro não é para mim. Debaixo daquele monte de roupa, largado e nu, há um homem. Eu já suspeitava. O estalo em meus ouvidos deixou os sons abafados, mas percebo que eles estão verificando os sinais vitais do homem. A mulher chora, com as mãos na boca. Consigo distinguir umas tatuagens pelo corpo dela, desenhos tribais, desenhos orientais, letras ilegíveis nesse momento. Os paramédicos começam uma massagem cardíaca, aplicam um acesso no braço do homem, e injetam algum medicamento. Um terceiro chega, com aquelas pranchas. O homem é levado às pressas para fora, a mulher se vai. Um dos paramédicos me percebe. Ele vem até mim e abre meus olhos com seus polegares. Fala algo abafado, sinalizando afirmativamente com a cabeça. E sai.

Eu só consigo tentar dizer algo, seco: água, por favor!

Cheers!