quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Ela, tão comum

Ela chega em sua casa, vinda do trabalho, e se depara com uma louça limpa, uma casa arrumada e roupas passadas e devidamente guardadas no closet. E isso é natural, afinal ela mora só e não deixa de cumprir com suas obrigações do lar. Uma pessoa organizada, independente. Sua casa é seu porto seguro, seu domínio neste mundo.

Um banho demorado. Dez minutos de dúvida: o que ela fará para o jantar? Peito de frango com molho de vinho e mostarda, ela decide. Aquela receita que a amiga da faculdade a ensinou. Uma música leve no ambiente, cantarola enquanto prepara o jantar. Ela ainda é uma pessoa feliz.

Em vinte e dois minutos ela devora sua solitária janta. Não havia percebido o tamanho de sua fome. Resolve tomar um pouco do iogurte natural. Uns morangos também são deliciosos. E na gula ela devora os pés-de-moleque que um tio havia feito pra ela. Enfim, vai até a sala para assistir aquele talk show que ela ama. Onze e vinte e cinco da noite, o sono já lhe encanta os olhos.

Outro banho, mais curto. Uma roupa leve. Desliga a tevê e vai dormir.

Ela não sabe mas amanhã ela será promovida em seu emprego, e isso mudará o resto de sua vida. Coisas simples não farão mais parte de seus pensamentos, afinal haverá muito trabalho a frente, e ela não quer perder tudo que ela já conquistou. Uma boa aposentadoria lhe espera. Longas viagens e um nada-para-fazer que ela, já idosa, espera viver.

E seu coração, em despedida, morrerá feliz por ter vivido uma vida comum. Cercada de amigos e família, pessoas comuns. Orgulhosa de feitos comuns, símbolo de uma vida dedicada às atividades naturais de um ser humano comum. Ela partirá em paz.

Sossego.
Cheers!

Nenhum comentário: