segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Dança dos mascarados

Um círculo rudimentar desenhado no chão, aquele lindo chão de mármore. "Uma proteção", diziam em meu ouvido. Eu somente olhava. Tateava em meus bolsos aquele doce mentolado. Suava frio, e o ar estava quase parado. Desejava uma brisa, mas ali não haviam janelas. Posso parar de pensar em perigo, eu creio, mas aquilo tudo demorava demais. Cantos e gestos, cheiros e dança. Eu já estava de saco cheio. Uma hora e nem uma faísca sequer para impressionar os olhos. E me chamavam de incrédulo nos primeiros dias. Agora sei a razão.

Razão. Nada ali fazia parte da razão. Homens e mulheres em roupas icônicas, pareciam representar o estereótipo do ocultista. Eu acho que a maioria ali era tão incrédula quanto eu, e seguia somente por um prazer bizarro de fazer parte de algo bizarro. Ainda assim aqueles rostos estavam firmes, outros austeros, e uns como se tivessem tendo um orgasmo. Um orgasmo. Eu nunca mais tive um orgasmo. "Concentre-se no círculo", diziam em meu ouvido. Eu já estava de saco cheio. Aquele círculo mal desenhado, com símbolos macabros, e eu ali, fingindo que esperava ver algo sair dali. Ou saísse, sei lá. Talvez um demõnio que subisse e matasse todos aqueles cultistas bestas. Um demônio. "Isso não tem nada a ver com demônios, meu jovem", disse uma voz em meu ouvido.

Uau, como ele sabia o que eu estava pensando? Será que aquilo de fato é magia? Será que isso existe? Se existe, eu começo a acreditar. Olho fixamente para o círculo, relaxo os braços e os pés. Sinto um frio subindo pela espinha até o meu cerebelo. Uau, que sensação estranha. De repente o meu pulmão começa a arder, uma ardência e um calor. A música começa a ficar mais intensa, os cheiros começam a ficar mais doces, os gestos mais enérgicos e a dança mais frenética. Parecem mesmo ocultistas agora. Minha visão está ficando mais limpa, eu creio. "Uma mente calma observa o círculo, um corpo preparado jamais se quebra", diz a voz em meu ouvido. Eu me viro e vejo um senhor de idade. É ele quem fala ao meu ouvido. Eu o acho estranho, e ele está de olhos fechados. Volto a olhar para o círculo. Aquele mármore é realmente muito lindo. E frio.

Cheers!

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