terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Permonnita Agluos

"No ritmo hipnótico, vamu lá, um-dois um-dois um-dois um-dois um-dois um-dois..."

Achei um fiozinho desenrolado no chão e decidi que ia segui-lo, para achar a bobina. Era azul. E nas minhas mãos a sujeira de sempre, e isso fazia grande diferença. E eu fedia a algum tempo, e isso incomodava. Precisava urgente de um banho. Mas mais urgente era a bobina.

Fui caminhando e descobri que meus olhos brilhavam de curiosidade, ao ver que o fiozinho terminava nos pés dela. Eu me perguntava - isso foi causado? - e ao mesmo tempo eu sorria, pois era a minha vontade.

Na verdade nunca houve o fiozinho. Ele é parte de uma alegoria muito grande que foi criada pra dizer pro mundo que eu estou amando desencontros, os abraços, as noites e o cheiro dela. O fiozinho são tantas coisas, tanta gente. E ele é azul porque não haveria de ser de outra cor. E o mais importante é que ele não estava ligado a uma bobina. Rs, era um fiozinho independente.

Adoro, contudo, o cheiro dela. Os lábios dela, cerrados. Os braços cruzados, enquanto ela diz que está cansada. Eu noto que pára de ventar lá fora, e o quarto se torna úmido lá dentro. Isso a incomoda. Os batimentos aceleram, e ela me apaixona contando as histórias dela. E eu ouço, sem dizer quase nada. Não quero interrompê-la.

Acaba a história, ela fecha bem devagar os olhos, e respira pesadamente. Acomoda a cabeça, mas eu percebo que ela está cheia de pensamentos. Eu tento acalmar a alma dela. Ela me nega algumas vezes, mas são tentativas vãs. Um abraço, dois, mais um, e um quarto abraço. Ela não se rende. Eu não me rendo. Então eu mergulho em pensamentos. Por um breve momento eu não sinto o corpo dela. Eu sou uma máquina, e às vezes eu sou um ser humano. Aí ela resolve ir embora pra casa.

Começa a chover, então ela me olha sorrindo, apostando na minha alegria. Naquela hora eu faço de tudo pra que a chuva continue, e que eu possa senti-la dormir mais uma vez. A chuva foi um ganho de tempo precioso. Logo ela percebe que não era uma chuva, mas um pedido meu. Se esquiva outra vez, e mais uma, e me deixa louco com umas palavrinhas. Nessa hora eu sei que o coração dela estava vacilante. A respiração mudou, e o corpo evitava-me.

Final da noite, ela vai embora. Continuo a sentir o cheiro dela no ar. Consigo sentir o tremor de minhas batidas ao vê-la indo, naquele corredor escuro e úmido. E eu volto pra casa, falando sozinho. Amanhã será mais um bom dia. E talvez uma noite maravilhosa.

Cheers!