terça-feira, 19 de setembro de 2006

Para o meu prazer ontem, no Programa do Jô, a entrevista era com Paulo Autran. Nunca uma dor de cabeça passou tão rápido com aquele papo cabeça sobre o teatro brasileiro. Foi explêndido a forma como ele, sinceramente, falou da sua "burrice" pela constante recaída que tem pelo cigarro. Imagino que muita gente se espelhou naquele relato.

Na outra ponta do iceberg, a que está escondida, há uma trama terrível, indestrutível aos meus olhos. A reconstrução dos meus textos perdidos está me dando um trabalho horrível. Estou imerso numa irreconhecível parte de mim. Falo isso porque os textos perdidos, se não fossem assinados por mim, eu diria que eram de outra pessoa. Lendo-os fiquei curioso com o constante sentimento de perseguição que eu tinha naquela época. Eu realmente invocava uma parcela da minha atenção à análise do cotidiano ao meu redor. E buscava, suado, como descrevi instintivamente, a trama que não me permitia ser alguém feliz.

Lendo esses textos eu compreendo, um pouco envergonhado, como eu me saí das mais bizarras situações, como me tornei um ser tão urbano quanto excêntrico. Eu li, naquelas folhas, uma escrita que abandonei a muitos anos, e que hoje me explicam de forma perigosa. E é essa essência perigosa que expus naqueles textos que me preocupam. Vou queimar todos aqueles papéis, vou encerrar os segredos dali.

E só conto aqui a existência desses textos porque, até nesse momento, eu me sinto perigosamente exposto, e, sem um público cativo desse blog, eu não corro riscos. Conto um segredo para ninguém e posso fazer o que quiser com ele.