terça-feira, 5 de setembro de 2006

Breve história do soldado e da bela esposa

No front:
O soldado, amigo das armas, estava realmente estimulado naquele dia. Contava os dias naquela guerra sanguinária. Resolveu vingar a morte de seus companheiros na noite anterior. E não conhecia limites para matar.

Sua arma era sua amiga, membro obscuro de seu corpo. Sua arma era a extensão metálica de sua alma. A destruição começava por ela. Acabava com a dor, o sofrimento, a guerra interna.

No rosto da amada:

O amor tolera quase tudo. A ausência daquele ser, o soldado, era demais para a bela esposa. Ela o lembrava, ela o invocava, nas manhãs solitárias. Pedia aos céus o fim da guerra, a saúde do soldado; mas a simples lembrança enviaria-lhe forças para manter-se vivo.

Ela realmente o amava. Triste com toda a situação a bela esposa só conhecia uma rival: a arma. O sangue, troféu de seu amado, era o pior estímulo amoroso que conhecia, e isso a deixava mais deprimida. Como sobreviver sem seu amor ao lado, sabendo-lhe estar fazendo aquilo que mais lhe dá prazer?

Os fortes se comprazem na batalha, enquanto os amantes estão em seus recatos. O soldado, ele nunca mais será visto ao lado da bela esposa. E a bela esposa nunca mais será vista chorando a distância de seu amado. O mundo não é cruel. Cruéis somos nós; nosso egoísmo. Mesmo lutando ou chorando a batalha dos outros, somos cruéis em afirmar pra si mesmos que o que amamos está vivo, ou morto.
Cheers!